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16-05-2018

A industrialização da criação de gado não altera a qualidade dos lacticínios. A sério?!

industrialização da criação Os produtores de lacticínios repetem até à exaustão que a industrialização da criação de gado não altera a qualidade dos lacticínios. Contudo, um estudo científico acaba de desacreditar esta afirmação demonstrando que o leite produzido por vacas alimentadas exclusivamente com erva biológica (pastagem, feno e erva conservada por via húmida) é de qualidade muito superior à do leite de vacas alimentadas de forma convencional.

Os autores analisaram mais de 1160 amostras de leite (1) e chegaram à conclusão de que as vacas alimentadas com soja e milho (ou seja, mais de 90% das vacas criadas nos países ocidentais) produziam leite com uma qualidade nutricional inferior à do leite tradicional. Em média, este leite tradicional era 147% mais rico em ómega 3 (50 mg contra 20 mg por 100 ml de leite) e continha 52% de ómega 6 a menos relativamente a um leite proveniente de pecuária “intensiva”.

Os investigadores avaliaram a relação entre ómega 6 e ómega 3 como sendo de 1/1 no leite de vacas alimentadas com erva biológica contra quase 6/1 no caso do leite de vacas alimentadas generosamente com milho e soja e que nunca vêem a cor de um campo nem de uma margarida.

Porque é que a relação entre ómega 6 e ómega 3 é tão importante?

Esta diferença no teor de ómega 3 e de ómega 6 é muito mais importante do que parece. Os ómega 3 têm efeitos favoráveis na composição das membranas celulares e em inúmeros processos bioquímicos do organismo. Quanto mais ómega 3 consumimos, mais se reduz o risco de doenças cardiovasculares e de perturbações metabólicas. Infelizmente, a implementação de técnicas intensivas de agricultura e de criação de gado conduziu a uma redução drástica no teor de ómega 3 em inúmeros alimentos como os legumes de folhas, os ovos, as carnes, o leite e até o peixe (2).

Pelo contrário, conduziu a uma subida espectacular do ómega 6: actualmente, consumimos 10 a 15 vezes mais ómega 6 do que ómega 3, embora seja normalmente necessário consumir quantidades iguais. Este excesso de ómega 6 açambarca todas as enzimas necessárias para a utilização dos ómega 3, já de si escassas. O organismo não consegue por isso explorar o respectivo potencial, o que se traduz por um estado fisiológico propício às doenças cardiovasculares e inflamatórias (3). Patologias que registam um avanço alarmante há várias décadas…

Esta é a razão pela qual os autores do estudo recomendam um retorno a uma alimentação que forneça uma relação adequada entre ómega 6 e ómega 3 (de 1/1 a 4/1). Enumeramos 4 truques para o conseguir:

1) Recorrer a suplementos de ómega 3

Com a rarefacção dos ómega 3 na alimentação moderna, os suplementos tornaram-se praticamente incontornáveis. Desde que se privilegiem as formas de origem natural:

  • Os suplementos à base de óleo de peixe. De entre eles destaca-se Super Oméga-3, um suplemento originário de pesca sustentável (certificado Friend of the Sea®) que apresenta a vantagem de combinar 155 mg de EPA (ácido eicosapentaenóico) e 115 mg de DHA (ácido docosahexanóico) por cada cápsula de gelatina mole, o que corresponde a cerca de 70% da dose diária recomendada pela Organização Mundial da Saúde. Trata-se de um empurrãozinho inegável para acompanhar os demasiado raros aportes alimentares que permitem os peixes e os outros crustáceos.
  • Os suplementos à base de óleo de krill. O óleo de krill (que deriva do nome dos pequenos camarões que encontramos nas águas frias) é uma fonte excepcional de ácidos gordos ómega 3: o suplemento Krill Oil contém 250 mg de EPA e DHA por cada cápsula de gelatina mole. A sua principal virtude, relativamente aos óleos de peixe, é possuir uma quantidade de antioxidantes considerável (nomeadamente astaxantina) comparável à do kiwi (valor ORAC de cerca de 380 unidades por grama).

2) Escolher os alimentos que apresentem a melhor relação entre ómega 6/ómega 3

Consumir ácidos gordos ómega 3 é importante, mas é também preciso ter cuidado para não consumir demasiados ómega 6, o que reduziria a capacidade de o organismo os utilizar. Por isso é preciso privilegiar os alimentos que apresentam uma relação ómega 6/ómega 3 próxima de 1. Prefira por isso leite “biológico” produzido por vacas alimentadas em pastagem e consuma óleo de colza (2/1), óleo de linhaça (0,25/1), óleo de chia (0,79/1) ou óleo de noz (4,4/1) em vez de óleo de girassol (600/1), de óleo de milho (9,3/1) ou de óleo de grainhas de uva (230/1). Reduza também as suas fontes de gorduras animais, o seu consumo de gema de ovo e todos os alimentos industriais (como os pratos preparados, os molhos, as vinagretas, etc.) que são fontes significativas de ómega 6.

3) Aumentar o consumo de alimentos ricos em ácido alfa-linolénico (AAL)

O ácido alfa-linolénico é um ácido gordo ómega 3 de origem vegetal que o organismo consegue transformar em AEP e em ADH, os ómega 3 que encontramos em abundância nos peixes gordos. Como o índice de conversão é muito fraco, não podemos contar unicamente com estes aportes para ter índices suficientes de AEP e de ADH, mas eles podem dar a sua contribuição. Eis as fontes mais ricas:

  • O óleo de linhaça
  • As sementes de linhaça trituradas
  • As sementes de chia
  • As nozes
  • As sementes de cânhamo

Porque raio é que as vacas são alimentadas com soja e milho?

Que o leite de vaca seja melhor com uma alimentação natural, é uma coisa que parece evidente. Mas, infelizmente, isso não saltou aos olhos dos criadores de gado nas últimas décadas. Pressionados para multiplicar a produção de leite, foram substituindo progressivamente a erva por milho fermentado, uma ração mais económica que permite manter as vacas afastadas do campo, ou seja, confinadas em vacarias superlotadas, longe das pastagens. Para compensar o seu forte teor em glúcidos, foi-lhe associada soja, um vegetal hiperproteico barato cujas variedades transgénicas tendem a impor-se por todo o planeta.

Com esta combinação, a produtividade aumentou, mas ao preço que bem conhece: a qualidade nutricional do leite caiu a pique e o problema põe-se também no caso dos ovos e da carne, dado que sofrem as mesmas aberrações em termos de nutrição dos animais. Por outro lado, os criadores dependem agora das importações de soja OGM (geralmente cultivada no Brasil) e dos herbicidas para conseguir cultivar correctamente o milho, uma planta bastante frágil. Perdem progressivamente o saber tradicional que permitia antes criar vacas sem recorrer a estes artifícios. Um ciclo vicioso que afecta também o meio ambiente; as vacas alimentadas com milho produzem muito mais metano (um gás de efeito de estufa envolvido no aquecimento global do clima) e conduzem a uma saturação do solo com pesticidas.

Os autores do estudo esperam que a procura crescente dos consumidores pelos produtos biológicos consiga convencer os produtores a converter os seus sistemas de pecuária em sistemas de pastagem. Antes que seja demasiado tarde…

Os pontos essenciais do artigo

  • Quanto mais uma vaca é alimentada com vegetais biológicos (idealmente em pastagem), mais o seu leite é rico em ómega 3 e menos ómega 6 contém.
  • A relação entre ómega 6/ómega 3 dos ocidentais seria de 10/1 a 30/1, quando se deveria situar 1/1 e 4/1.

O estudo principal do artigo

Charles M. Benbrook, Donald R. Davis, Bradley J. Heins, Maged A. Latif, Carlo Leifert, Logan Peterman, Gillian Butler, Ole Faergeman, Silvia Abel-Caines, Marcin Baranski. Enhancing the fatty acid profile of milk through forage-based rations, with nutrition modeling of diet outcomes. Food Science & Nutrition, 2018; DOI: 10.1002/fsn3.610

Referências:
1) Charles M. Benbrook, Donald R. Davis, Bradley J. Heins, Maged A. Latif, Carlo Leifert, Logan Peterman, Gillian Butler, Ole Faergeman, Silvia Abel-Caines, Marcin Baranski. Enhancing the fatty acid profile of milk through forage-based rations, with nutrition modeling of diet outcomes. Food Science & Nutrition, 2018; DOI: 10.1002/fsn3.610
(2) Hibbeln, J. R., Nieminen, L. R. G., Blasbalg, T. L., Riggs, J. A., & Lands, W. E. M. (2006). Healthy intakes of ω-3 and ω-6 fatty acids: Estimations considering worldwide diversity. American Journal of Clinical Nutrition, 83, 1483S–1493S
(3) Schmitt B. Le rapport Oméga-6/Oméga-3 dans l’équilibre alimentaire : Biochimie, métabolisme et conséquences physiopathologiques. Nutritions & Endocrinologie, Septembre-Octobre2010, vol.8, n°47.
Encomendar os nutrientes evocados neste artigo
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