
Há algumas semanas, surgiu um novo estudo sobre a gestão das dores ligadas à artrose, uma das três doenças mais invalidantes e provavelmente a principal causa de deficiência locomotora. As pessoas afectadas,
ou seja, mais de 85% dos indivíduos com mais de 80 anos, sabem até que ponto a dor pode ser um calvário. Um verdadeiro suplício susceptível, a qualquer momento, de os forçar a abandonar, a renunciar às actividades diárias que tanto apreciam. Numa palavra, a retirar-lhes a vida que ainda os anima. Para alguns, contudo, eles continuam a ser
consumidores como os outros.
Os investigadores que estão na origem deste estudo
1 sobre os preparados medicamentosos integram provavelmente este grupo. Numa introdução muito pouco convincente, explicam-nos primeiramente o seu desejo de elaborar
uma classificação dos melhores analgésicos medicamentosos por meio de uma meta análise, ou seja, examinando os estudos já realizados sobre o assunto. Até lá a intenção é aceitável. Várias centenas de cálculos mais tarde, chegam a esta espantosa conclusão: em doses de 150 mg/dia o Diclofenac seria "
o AINE mais eficaz disponível actualmente para as dores da artrose, em termos de melhoria da dor e da função motora". Acrescentam até que o paracetamol não proporciona qualquer alívio independentemente da dose tomada.
Estupor no leitor. Estaremos mesmo a falar desta molécula cujos riscos cardiovasculares provocaram um verdadeiro brado de protestos há alguns anos
2? Será a mesma molécula que fez saltar a Société Française de Rhumatologie e que quadruplicaria o risco de mortalidade cardiovascular? Sem dúvida! Mas o leitor iniciado não se ficará por esta conclusão. Irá analisar, dissecar, esmiuçar. Acabará por descobrir que este estudo foi financiado pelo Fundo nacional suíço e que, curiosamente, o diclofenac é comercializado em França com o nome de Voltaren pela Novartis, um grupo farmacêutico… suíço.
A busca da desinformação
Infelizmente, alguns jornalistas não se mostram tão sensatos como este leitor. Desprezando os preceitos que constituíram, durante séculos, a base da sua profissão, tais jornalistas contentam-se em percorrer as conclusões do estudo e assumir passivamente as palavras que o compõem. E assim lê-se na France TV, que recebe uma percentagem dos nossos impostos e que deveria por conseguinte zelar por respeitar a sua missão de serviço público: "
Artrose: o melhor tratamento anti dor é… o diclofenac". Bingo! Ou seja, o género de título de imprensa visado pelos autores da publicação. Ora, todos os que tenham estudado o dossier sabem até que ponto este título pode ser visto como
desinformação. Com efeito, ficou demonstrado que este medicamento apresentava efeitos secundários numerosos e perigosos, que não podia ser indicado a indivíduos com risco de doenças cardiovasculares (hipertensão arterial, hiperlipidemia, diabetes) ou poli medicamentados (ou seja, a maioria dos indivíduos afectados pela artrose) e que apenas poderia ser utilizado, independentemente das circunstâncias, por curtos períodos de tempo e em doses reduzidas. Por outras palavras, não constitui
de todo o melhor “tratamento” contra a dor…
Do relaxamento à fitoterapia
Lamentamos igualmente a falta de recuo, tanto dos autores como dos jornalistas, relativamente a esta ideia de “melhor” tratamento contra a dor. A dor é, de facto, uma
experiência particularmente complexa influenciada pela personalidade, pela componente genética, pelas experiências de dores anteriores e pelas apreensões das dores futuras
3, 4. A ansiedade ou a depressão podem modular a expressão da dor; interessamo-nos cada vez mais por tratamentos que não actuam directamente na dor, mas sim contra estes estados psicológicos. Vários estudos independentes mostraram assim o interesse de intervenções psicológicas como o
relaxamento, a hipnose ou a actividade física para reduzir indirectamente a dor
5-7. Tratamentos de longo prazo que não têm, evidentemente, quaisquer efeitos secundários. Alguns produtos de fitoterapia combinam vários dos extractos naturais mais bem estudados para apoiar a saúde das articulações (o sulfato de glucosamina, derivados de exosqueletos marinhos, o MSM, presente em muito fraca quantidade em inúmeros alimentos). É o caso, por exemplo, de Joint Support Formula que se baseia em estudos fiáveis e exaustivos
8-10. Contrariamente ao Diclofenac, tem a vantagem de não apresentar praticamente nenhum efeito secundário e pode constituir um tratamento de longo prazo. Também neste caso, o leitor iniciado irá julgar por si mesmo a eficácia do produto, como tantos outros antes dele: a medicina ayurvédica, considerada a mais antiga medicina holística do mundo, conta com estes produtos naturais há muitos milhares de anos
11.
Referências
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