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04-08-2015

O neem ou árvore-farmácia da aldeia

Neem O neem (Azadirachta indica), também chamado amargoseira ou lilás-da-índia, é conhecido na Índia há muitos séculos pelas suas inúmeras virtudes curativas. Por vezes baptizado com o nome de árvore das maravilhas ou árvore-farmácia da aldeia, o neem contém inúmeras substâncias com actividades anti-inflamatórias, antibacterianas ou imuno-estimulantes. Os primeiros textos médicos em sânscrito fazem referência aos efeitos benéficos dos seus frutos, grãos, óleo, folhas, raiz ou casca. Cada uma destas partes da árvore é utilizada há vários séculos pela medicina ayurvédica para tratar vários problemas de saúde. Por outro lado, nas regiões onde foi introduzido mais recentemente, na América do Sul e na África tropical, a sua reputação de aliviar vários problemas já foi comprovada

Actualmente, a utilização do neem mais bem estabelecida e mais amplamente reconhecida baseia-se nas suas qualidades de anti-séptico geral. Preparados à base de extractos de neem demonstraram a sua eficácia contra toda uma série de doenças da pele, feridas ou queimaduras infectadas. As suas folhas, aplicadas na forma de cataplasmas ou decocções, são também recomendadas no caso de furúnculos, úlceras ou eczemas. O óleo, por seu lado, é utilizado para as patologias cutâneas como as escrófulas, as úlceras indolentes ou o herpes.

Foram também reivindicadas as suas qualidades de tratamento contra um grande número de outros problemas de saúde, mas estas ainda não foram confirmadas de forma independente por meio de ensaios controlados. Contudo, indicações interessantes deixam supor que o neem possa ser, no futuro, muito mais amplamente utilizado.
Estas pistas promissoras, mas não confirmadas, incluem tratamentos anti-inflamatórios, hipotensores ou anti-ulcerosos.

A utilização tradicional do neem na Índia

Na altura em que foram compostos os Veda, o neem era designado “Sarva Roga Nivarini”, ou “o que consegue curar todas as afecções e doenças”, e continua a ser considerado como tal vários séculos mais tarde. A chegada dos colonizadores portugueses, britânicos e franceses ao sub-continente indiano conduziu ao abandono de determinadas práticas tradicionais como as de utilizar as folhas de neem para proteger os stocks das colheitas de grão, a favor de técnicas mais modernas. Mas a utilização do neem manteve-se profundamente enraizada nas mentalidades indianas e actualmente, além da utilização no tratamento de várias doenças, ele entra sempre na composição de pastas dentífricas, sabões, sacramentos e alimentos para milhões de indianos.

Os primeiros trabalhos sobre uma possível utilização comercial do neem foram realizados pelo Instituto indiano das ciências em Bangalore durante os anos 20 do século XX. Até 1933, o bolo de neem (a matéria prensada da qual se extrai o óleo) era utilizado para fertilizar os campos de cana-de-açúcar e manter as térmitas afastadas..

Mahatma Gandhi acreditava firmemente no valor benéfico do neem. Realizada reuniões de oração ao ashram Sabarmati à sombra de uma árvore de neem e a sua alimentação diária incluía um chutney de folhas de neem.

Uma actividade antifúngica e antibacteriana

Tradicionalmente, na medicina ayurvédica, o óleo de grãos de neem, extractos aquosos de folhas de neem, folha de neem em pó ou o fumo de folhas de neem secas queimadas são utilizados na Índia para prevenir e tratar as doenças de origem fúngica.

Os extractos de folhas de neem e o óleo de neem evidenciaram a sua eficácia contra determinados fungos que infectam o organismo humano. Tais fungos constituem um problema crescente e o seu controlo com fungicidas sintéticos é difícil. Assim, um estudo realizado em laboratório1 demonstrou a eficácia de um preparado à base de neem em culturas de 14 fungos correntes, incluindo membros das famílias do:
    - Trichophyton, o fungo do “pé de atleta”, que infecta os cabelos e as unhas;
    - Epidermophyton, um “herpes” que invade a pele e as unhas dos pés;
    - Microsporum, um “herpes” que invade os cabelos, a pele e, mais raramente, as unhas;
    - Trichosporon, um fungo do sistema gastrointestinal;
    - Geotrichum, um fungo semelhante a uma levedura, responsável por infecções dos brônquios, dos pulmões e das membranas mucosas;
    - Candida, um fungo semelhante a uma levedura, que se encontra na flora mucósica normal, mas que pode tornar-se incontrolável e originar lesões na boca, vagina, pele, mãos e pulmões.
O óleo extraído das folhas, grãos e casca de neem exerce uma acção antibacteriana de largo espectro contra os microrganismos de Gram negativo ou Gram positivo, incluindo M. tuberculosis e estirpes resistentes à estreptomicina2. Em ensaios clínicos, inibe bactérias patogénicas incluindo:
    - Staphylococcus aureus3, que possui actualmente inúmeras estirpes resistentes à penicilina e a outros antibióticos, o que explica a frequência do aparecimento de infecções por estafilococos nos hospitais;
    - Salmonella typhosa4. Esta bactéria que vive nos alimentos e na água é responsável pela febre tifóide e por uma variedade de infecções incluindo envenenamentos do sangue e inflamações do intestino.

    In vitro, inibe bactérias como a Vibrio cholerae, a Klebsiella pneumoniae, a M. tuberculosis ou a M. pyogenes5. Mais recentemente, a actividade antibacteriana do óleo de grãos de neem foi avaliada contra 14 estirpes de bactérias patogénicas 6. Tal como acontece com os antibióticos, a actividade antibacteriana do neem é limitada e determinadas estirpes de bactérias resistem-lhe.

    Cuidados e tratamento dos dentes

    Na Índia e em África, milhões de pessoas utilizam diariamente raminhos como escova de dentes. Para muitos deles, esses raminhos são de neem. Os dentistas defendem esta prática constatando que ela previne eficazmente a doença periodontal7.

    Um estudo examinou os efeitos inibidores de um extracto de talo de neem na agregação, crescimento e aderência de bactérias na hidroxiapatite, bem como na produção de glucanos insolúveis (derivados insolúveis da glicose) susceptíveis de afectar, in vitro, a formação da placa bacteriana. Os resultados mostraram que o extracto de neem inibia a síntese de glucanos insolúveis e podia reduzir a capacidade de determinados estreptococos colonizarem a superfície dos dentes8. A eficácia de um extracto de folhas de neem contra a formação da placa bacteriana foi avaliada num grupo de homens com idades compreendidas entre os 20 e os 30 anos, por um período de seis semanas. O ensaio clínico comparou a eficácia de um gel dentário contendo um extracto de folhas de neem à de uma solução de lavagem da boca com clorexidina. Os resultados do estudo sugerem que o gel contendo o extracto de neem reduz significativamente o índice de placa bacteriana e o número de bactérias 9.

    Propriedades antivirais

    Determinados compostos do neem demonstram uma capacidade única para cercar os vírus, impedindo-os de provocar infecções. O neem inibe igualmente a duplicação dos vírus interferindo com a superfície das células.
    Estudos farmacológicos sustentam que o facto de as folhas de neem poderem conter propriedades antivirais. Estes resultados são interessantes, apesar de serem preliminares e não confirmados. Nos Estados Unidos, extractos aquosos de folhas de neem provaram inibir de forma fraca a moderada a ADN polimerase do vírus da hepatite B10. Na Alemanha, um extracto alcoólico de neem revelou-se eficaz contra o vírus do herpes11. Os efeitos antiviral e virucida de um extracto alcoólico de folhas de neem foram demonstrados no vírus Coxsackie de grupo B12. In vitro, inibe a formação da placa bacteriana de diferentes tipos antigénicos do vírus Coxsackie B na concentração de 1 mg/ml.

    Uma actividade antioxidante demonstrada< /h3> A actividade antioxidante do extracto de grãos de neem ficou demonstrada in vivo durante a germinação de uma planta. Em ratos macho nos quais foi induzido um stress oxidativo por um potente carcinogénico hepático, um pré-tratamento com um extracto alcoólico de folhas de neem diminuía a concentração de lípidos peroxidados. A mesma equipa de investigadores realizou um outro estudo em ratinhos albinos macho. Um extracto alcoólico de folhas de neem reduzia a peroxidação lipídica e estimulava a actividade antioxidante ligada à glutationa peroxidase13.

    Efeitos benéficos nas doenças inflamatórias

    O neem é utilizado no tratamento dos reumatismos e da artrite bem como de outras doenças inflamatórias. Inúmeros trabalhos de investigação evidenciaram as propriedades anti-inflamatórias do neem14. Outros mostraram que um dos seus princípios activos, a nimbidina (extraída dos seus grãos) exercia uma acção benéfica na artrite e na inflamação. A acção anti-inflamatória do neem traduz-se por diferentes tipos de actividades contra a inflamação aguda ou crónica. A forte inibição da inflamação imediata e aguda provocada pelo neem sugere que ele previne a libertação de substâncias neuroquímicas que induzem a inflamação – como as prostaglandinas. Um estudo mostrou claramente que um extracto de folhas de neem inibia mais eficazmente as prostaglandinas do que a aspirina 15.

    Um efeito hepatoprotector

    Investigações realizadas mostraram que um extracto aquoso de folhas de neem oferecia uma protecção contra a necrose hepática induzida em ratos por paracetamol. Os níveis elevados de AST, de ALT e de GGT, indicadores de lesões do fígado, baixaram de forma significativa com a administração do extracto aquoso de folhas de neem16. O efeito anti úlcera de um extracto de folhas de neem foi examinado em ratos expostos ao stress ou que haviam sido forçados a ingerir etanol. O extracto foi administrado em doses de 10, 40 ou 160 mg de folhas por kg de peso de uma só vez ou numa série de cinco doses em pré-tratamento. O neem reduziu de forma proporcional à dose a gravidade da úlcera gástrica em ratos submetidos ao stress e diminuiu também as lesões provocadas pelo etanol na mucosa gástrica. O extracto parece prevenir a desgranulação dos mastócitos e aumentar as quantidades de muco gástrico nos animais stressados. Isso poderia explicar, pelo menos em parte, o modo de acção anti úlceras do neem17. Em laboratório, mostrou-se que um extracto aquoso de casca de neem possuía uma potente actividade antiulcerosa e de secreção de anti ácidos 18.

    Uma acção hipoglicemiante

    Um extracto aquoso de folhas de neem diminuía de forma significativa os níveis da glicemia e prevenia a hiperglicemia induzida pela glicose19. Administrado por via oral, um extracto aquoso de folhas de neem provocava uma hipoglicemia em ratos saudáveis e uma diminuição da glicemia em ratos com diabetes induzida de forma experimenta 20.
    O efeito hipoglicemiante do extracto de folhas de neem poderia ficar a dever-se à presença de um flavonóide, a quercetina.

    Neem e malária

    A malária é uma das febres mais frequentes na Índia e nos trópicos. O extracto de folhas de neem é receitado desde tempos imemoriais para tratar a malária por médicos indianos da medicina ayurvédica. As populações da Nigéria e do Haiti usam folhas secas em tisanas para tratar esta doença.

    A investigação mostrou que o neem é tóxico para os parasitas da malária e que consegue fazer baixar a febre que atinge os pacientes com esta doença. Extractos aquosos ou alcoólicos de folhas de neem evidenciaram a sua eficácia contra o parasita P. falciparum.

    Trabalhos realizados na Índia indicaram que os constituintes de um extracto alcoólico de folhas e de grãos de neem eram eficazes contra estirpes de parasitas da malária sensíveis ou resistentes à cloroquina21. Os diferentes extractos testados reprimiam o crescimento dos parasitas em 72 horas.

    Embora estes resultados sejam preliminares, estes dados indicam uma linha de investigação interessante. De notar que, apesar de os extractos de neem combaterem eficazmente os parasitas da doença, nunca se demonstrou que seriam capazes de prevenir o desenvolvimento da infecção no organismo.

    Uma acção anticancerosa

    A Índia e no sudeste asiático, os técnicos da medicina ayurvédica utilizaram com sucesso o neem para reduzir tumores. Estudos realizados mostram uma actividade anticancerosa de extractos aquosos de folhas de neem. Relatórios examinaram a utilização de extractos de neem para tratar pacientes com diferentes formas de cancro 22.

    O efeito anticanceroso de duas doses diferentes (250 e 500 mg por kg de peso) de um extracto alcoólico de folha de neem foi estudado em ratinhos aos quais haviam sido induzidos cancros por via química. Os resultados mostraram que as duas doses de extracto de folhas de neem reduziam a incidência dos tumores 23.

    Referências:
    1- Khan and Wassilew, 1987.
    2- Chopra, Gupta and Nair, 1952.
    3- Schneider, 1986.
    4- Patel et Trivedi, 1962.
    5- Satyavatu, Raina and Sharma, 1976.
    6- Baswa, Rath, Dash et al., 2001.
    7- M. Elvin-Lewis, 1980.
    8- Wolinski et al., 1996.
    9- Pai MR et al., 2004.
    10- Informations de D .W. Unander.
    11- Information de H. Schmutterer.
    12- Badam, Koshi and Bedekar, 1999.
    13- Subapriya et al., 2004.
    14- Okpanyi, 1981.
    15- Okpako, 1977.
    16- Bhanwra et al., 2000.
    17- Garg et al., 1993.
    18- Bandyopadyay, 1998.
    19- Murty et al., 1978.
    20- El-hawary et al., 1990.
    21- Badam et al., 1987.
    22- Hartwell, 1982.
    23- Dasgupta et al., 2004.
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