Saúde cardiovascular – os benefícios naturais da hesperidina

Apesar de o nome não lhe dizer nada, já consumiu com toda a certeza hesperidina. Com efeito, esta molécula está naturalmente presente em determinados frutos, nomeadamente citrinos. Nos últimos anos esta substância natural suscitou o interesse da comunidade científica em virtude dos seus efeitos benéficos para a saúde. Alguns investigadores confirmaram, por exemplo, as vantagens desta molécula para o sistema cardiovascular, tanto para a circulação sanguínea como para o bom funcionamento do coração. É aliás por essa razão que a hesperidina é actualmente utilizada com fins preventivos e terapêuticos contra os problemas cardiovasculares. Façamos o ponto de situação sobre os resultados mais recentes obtidos com este princípio activo natural.

A acção benéfica da hesperidina na função endotelial

Em 2011, uma equipa de cientistas italianos propôs-se avaliar o interesse terapêutico da hesperidina. Para tal, os investigadores realizaram dois estudos cujas conclusões foram publicadas na revista científica The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism¹.

Os efeitos benéficos da toma de um suplemento de hesperidina
Os investigadores monitorizaram os efeitos da toma de um suplemento de hesperidina em 24 pacientes com síndrome metabólica. Estes foram divididos em dois grupos. Alguns pacientes tomavam um suplemento de hesperidina, numa dose de 500 mg por dia, ao passo que outros tomavam um placebo. Tomado ao longo de três meses, o suplemento de hesperidina revelou excelentes resultados na função endotelial. Na verdade, os investigadores mostraram que a toma deste suplemento permitiu aumentar a dilatação da artéria braquial, comparativamente ao grupo que tomou o placebo. A hesperidina parece assim ter uma acção vasodilatadora, que pode revelar-se benéfica para o sistema cardiovascular, nomeadamente no caso de hipertensão arterial. O tratamento à base desta molécula natural permitiu de igual modo diminuir a concentração de biomarcadores inflamatórios circulantes, o que confere à hesperidina um interesse terapêutico.

Uma acção específica nas células endoteliais
Paralelamente, a equipa de investigação italiana propôs-se estudar os mecanismos de acção da hesperidina. Para tal, avaliaram a actividade da hesperitina – um metabolito da hesperidina – numa cultura de células endoteliais de aorta bovina. Os trabalhos realizados mostraram que a hesperidina permite estimular a actividade enzimática da óxido nítrico sintase endotelial, que intervém na produção de óxido nítrico pelas células endoteliais. Isto permite explicar os benefícios da hesperidina pois o óxido nítrico é uma molécula que está envolvida em inúmeras funções biológicas. Esta molécula possui nomeadamente uma função vasodilatadora, o que permite explicar a dilação dos vasos sanguíneos obtida durante a toma de um suplemento de hesperidina. Além disso, o tratamento à base de hesperidina levou a um aumento da adesão de determinadas células imunitárias ao nível das células endoteliais de aorta bovina.

O efeito cardioprotector da hesperidina

Além do seu efeito benéfico na função endotelial, a hesperidina apresenta um efeito cardioprotector graças ao seu poder antioxidante e às suas propriedades hipolipemiantes. São as conclusões de dois estudos realizados por uma equipa de investigação indiana^2,3.

Uma actividade antioxidante para proteger o coração
Em 2010 os investigadores comunicaram os resultados dos seus trabalhos sobre o poder antioxidante da hesperidina2. Convencidos do interesse terapêutico desta substância natural, os cientistas propuseram-se avaliar a eficácia da toma de um suplemento de hesperidina para combater determinados problemas cardiovasculares, como o enfarte do miocárdio. Para tal, os investigadores reproduziram uma isquémia do miocárdio em ratos, por injecção de isoproterenol. Determinados ratos receberam depois um tratamento à base de hesperidina, com diferentes dosagens: 100, 200 e 400 mg por quilograma de peso do rato. Graças a diferentes análises, os investigadores confirmaram primeiramente a pertinência do seu estudo medindo um aumento dos marcadores cardíacos nos ratos que tomavam uma injecção de isoproterenol. Esta observação confirma o surgimento e o desenvolvimento de uma isquémia do miocárdio. Nos ratos que tomaram o suplemento de hesperidina, os cientistas constataram uma diminuição destes marcadores, o que confirma o interesse desta molécula para evitar determinados problemas cardiovasculares.

Para compreender melhor o efeito cardioprotector da hesperidina, os investigadores aprofundaram os seus resultados nos ratos que tomaram um suplemento de hesperidina. Constataram que este tratamento permitiu reequilibrar determinados parâmetros que podiam ser alterados no caso de um problema cardiovascular. Contrariamente aos ratos que tomaram o suplemento de hesperidina, os ratos isquémicos apresentavam, por exemplo, um aumento dos marcadores de peroxidação dos lípidos no plasma e no coração, uma diminuição da concentração de alguns antioxidantes como a vitamina C e uma redução na actividade de várias enzimas como a glutationa peroxidase ou ainda a superóxido dismutase. Estas observações tendem a provar que o efeito cardioprotector da hesperidina estaria ligado ao seu poder antioxidante e à sua acção benéfica contra a peroxidação dos lípidos.

Propriedades hipolipemiantes para melhorar o perfil lipídico
Em 2012 investigadores indianos publicaram os resultados de um novo estudo na revista especializada Experimental and Toxicologic Pathology³. No decurso dos seus trabalhos os cientistas avaliaram o efeito cardioprotector da hesperidina graças à sua acção no perfil lipídico. Da mesma forma que no seu primeiro estudo, os investigadores induziram uma isquémia do miocárdio a vários grupos de ratos. De entre estes ratos, alguns tomaram depois um suplemento oral de hesperidina. Para medir a eficácia deste tratamento, foram depois avaliados vários parâmetros do perfil lipídico. Na ausência de toma de suplemento, os ratos isquémicos apresentavam modificações importantes no perfil lipídico:

- um aumento dos índices de colesterol, de colesterol LDL (“colesterol mau”), de colesterol VLDL, de triglicéridos e de ácidos gordos livres no plasma;
- uma diminuição dos índices de colesterol HDL (“colesterol bom”) no plasma;
- um aumento dos índices de colesterol, de triglicéridos e de ácidos gordos livres nos tecidos cardíacos e hepáticos.

Estas modificações não foram identificadas nos ratos que tomaram o suplemento de hesperidina, o que confirma o interesse desta molécula natural para melhorar o perfil lipídico. Razão pela qual os investigadores atribuíram propriedades hipolipemiantes à hesperidina. Estes novos resultados confirmam igualmente o efeito cardioprotector desta molécula, sabendo que a acumulação de colesterol ao nível das artérias aumenta o risco de desenvolver uma doença cardiovascular.
Estes estudos demonstraram o interesse terapêutico da hesperidina, a tal ponto que esta é actualmente utilizada na formulação de determinados medicamentos e suplementos nutricionais. Contudo, a biodisponibilidade desta molécula nem sempre á adequada. Razão pela qual convém preferir um derivado metilado de hesperidina, cuja absorção ao nível do tracto gastrointestinal é facilitada.

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> Fontes:
1. Rizza S, Citrus polyphenol hesperidin stimulates production of nitric oxide in endothelial cells while improving endothelial function and reducing inflammatory markers in patients with metabolic syndrome, J Clin Endocrinol Metab, Maio 2011, 96(5):E782-92.
2. Selvaraj P, Pugalendi KV, Hesperidin, a flavanone glycoside, on lipid peroxidation and antioxidant status in experimental myocardial ischemic rats, Redox Rep, Volume 15, 2010 - Edição 5, Páginas 217-223.
3. Selvaraj P, Pugalendi KV, Efficacy of hesperidin on plasma, heart and liver tissue lipids in rats subjected to isoproterenol-induced cardiotoxicity, Exp Toxicol Pathol, Jul. 2012, 64(5):449-52.