
Nos últimos anos, descobriu-se com estupefacção as inúmeras implicações do nosso microbiota no bom funcionamento do corpo. Praticamente todas as semanas é atribuído a estes 100 000 milhares de microrganismos, que vivem no nosso organismo, um novo papel num mecanismo determinante da nossa saúde. Primeiro pensou-se que o seu papel se limitava à digestão, depois que se estendia à imunidade, à prevenção das doenças crónicas, à inflamação, às perturbações do humor, à regulação do sistema nervoso e, agora, aprendemos que a sua qualidade influencia a probabilidade de sofrer de problemas de stress pós-traumático
1.
A importância da qualidade do microbiota
Se não conhece esta perturbação muito frequente, saiba que pode ser vítima dela depois de viver um acontecimento traumatizante, como um acidente rodoviário, abusos físicos e sexuais, ou um desastre natural. Trata-se de um fenómeno muito comum, que provoca um determinado número de sintomas recorrentes como pesadelos, lembranças repetitivas e invasoras, comportamento evasivo, alterações emocionais e hiper activação do sistema nervoso (irritabilidade, dificuldades de concentração, hiper vigília…) mas não afecta toda a gente. Face a um mesmo acontecimento traumatizante, um indivíduo pode desenvolver um stress pós-traumático e outro pode escapar-se a esse stress. Este destino incerto não é uma simples questão de “cara ou coroa”; os investigadores haviam até então reparado que as más experiências ligadas à infância bem como uma má higiene de vida podiam fazer pender a sorte de um indivíduo para o lado errado da balança. Mas um novo factor parece negar veementemente o papel do acaso neste desfecho:
a qualidade do microbiota.
Ao comparar os microbiotas das pessoas que sofrem de problemas de stress pós-traumático com os das pessoas que escaparam a ele apesar de terem vivido um acontecimento traumatizante, os investigadores notaram uma diferente significativa. As vítimas de stress pós-traumático apresentavam quantidades consideravelmente reduzidas de 3 tipos de bactérias: Actinobacteria, Lentisphaerae e Verrucomicrobia. Ora, duas das funções conhecidas destas bactérias são a regulação do sistema imunitário e a modulação dos níveis de inflamação.
Durante o stress-traumático os investigadores evidenciaram justamente
respostas inflamatórias exageradas bem como uma alteração dos linfócitos T reguladores – estas células imunitárias aberrantes que encontramos nomeadamente nas alergias, nas doenças auto-imunes e nas rejeições de enxertos
2-3. Notaram também que as pessoas que apresentavam – antes do acontecimento traumatizante – níveis elevados de proteína C-reactiva (um marcador inegável da inflamação) eram mais susceptíveis de sofrer de stress pós-traumático
4.
As nossas bactérias e o nosso sistema nervoso comunicam entre si
Este estudo lembra a existência de uma comunicação vital entre o nosso sistema nervoso central e o nosso microbiota intestinal. Quando surgem alterações nefastas, por exemplo na sequência de um tratamento antibiótico ou de uma alimentação desequilibrada, são de esperar consequências directas na função cognitiva
5, no eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal, a que chamamos o eixo do stress, e – por efeito dominó – na capacidade do organismo prevenir ou precipitar um determinado número de doenças
6. Estas consequências no nosso sistema nervoso central têm elas próprias repercussões no microbiota, levando a um ciclo tão vicioso quanto devastador
7. Os glucocorticóides que são segregados pelo organismo em caso de stress propiciam por exemplo a expansão de uma bactéria patogénica, a Helicobacter spp, que – por seu lado – favorece e agrava todas as doenças inflamatórias crónicas
8.
Felizmente é possível
intervir para restabelecer populações bacterianas saudáveis no microbiota e evitar propiciar o stress pós-traumático e o conjunto das doenças inflamatórias crónicas. Para tal utilizam-se probióticos, ou seja, microrganismos que vão agir favoravelmente no microbiota eliminando as espécies patogénicas. Tem à sua disposição duas possibilidades compatíveis:
- quer procurando eliminar as bactérias do género Helicobacter, envolvidas em inúmeras doenças crónicas da actualidade, por intermédio de suplementos especificamente dirigidos contra as bactérias deste tipo, como Pylori Fight.
- quer actuando em todas as frentes graças a uma potente mistura de probióticos, como Probio Forte que contém nada menos que 8 mil milhões de microrganismos por cápsula e 5 estirpes de bactérias diferentes.
Trata-te, em todo o caso, de um domínio da medicina em plena evolução, que é objecto de inúmeros estudos a nível internacional e que suscita muitas esperanças para
combater definitivamente as doenças crónicas e os problemas ligados ao stress.
Referências
1. Sian M.J. Hemmings, Stefanie Malan-Müller, et al. The Microbiome in Posttraumatic Stress Disorder and Trauma-Exposed Controls. Psychosomatic Medicine, 2017; 79 (8): 936 DOI: 10.1097/PSY.0000000000000512
2. Sommershof A, Aichinger H, Engler H, Adenauer H, Catani C, Boneberg EM, Elbert T, Groettrup M, Kolassa IT. Substantial reduction of naive and regulatory T cells following traumatic stress. Brain Behav Immun 2009; 23(8): 1117-24
3. Morath J, Gola H, Sommershof A, Hamuni G, Kolassa S, Catani C, Adenauer H, RufLeuschner M, Schauer M, Elbert T, Groettrup M, Kolassa IT. The effect of trauma-focused therapy on the altered T cell distribution in individuals with PTSD: evidence from a randomized controlled trial. J Psychiatr Res 2014; 54:1- 10.
4. Eraly SA, Nievergelt CM, Maihofer AX, Barkauskas DA, Biswas N, Agorastos A, O'Connor DT, Baker DG. Assessment of plasma C-reactive protein as a biomarker of posttraumatic stress disorder risk. JAMA Psychiatry 2014; 71(4): 423-31.
5. Cryan JF, Dinan TG. Mind-altering microorganisms: the impact of the gut microbiota on brain and behaviour. Nat Rev Neurosci 2012; 13(10): 701-12.
6. Pace TW, Heim CM. A short review on the psychoneuroimmunology of posttraumatic stress disorder: from risk factors to medical comorbidities. Brain Behav Immun 2011; 25(1): 6-13
7. Round JL, Mazmanian SK. The gut microbiota shapes intestinal immune responses during health and disease. Nat Rev Immunol 2009; 9(5): 313-23.
8. Wang CM, Kaltenboeck B. Exacerbation of chronic inflammatory diseases by infectious agents: Fact or fiction? World J Diabetes 2010; 1(2): 27-35