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12-12-2016

A bromelaína, uma enzima proteolítica com propriedades múltiplas

Bromelain Extraída do ananás, a bromelaína é utilizada na Europa para propiciar o restabelecimento após uma cirurgia ou lesões desportivas, assim como para tratar sinusites ou flebites. De entre as suas outras utilizações, temos o tratamento das doenças venosas, das contusões, da artrite, da poliartrite reumatóide, da gota, das colites ulcerosas e das dismenorreias. A bromelaína aumenta também a absorção de diferentes medicamentos e, em particular, dos antibióticos como a amoxicilina ou a tetraciclina.

O ananás tem um longo passado de utilização medicinal pelas populações originárias da América do Sul ou da América Central. Extractos de polpa e do talo fibroso de ananás eram aplicados nas feridas e nas lesões cutâneas para reduzir a inflamação. Beber o seu sumo era conhecido para aliviar as dores de estômago e as indigestões causadas pelo abuso de álcool.

A bromelaína – o ingrediente activo do ananás – foi isolado pela primeira vez em 1891 e introduzido como suplemento terapêutico em 1957. A bromelaína é uma enzima proteolítica que tem a propriedade de digerir as proteínas. Encontramo-la tanto no talo fibroso do ananás como no sumo do fruto fresco.

A bromelaína foi inicialmente produzida no Japão, no Hawai e em Taiwan; a maior parte das primeiras investigações foi realizada nestes dois primeiros países. A bromelaína atraiu mais tarde a atenção de investigadores europeus, tendo-se tornado em 1995 a 13ª substância à base de plantas mais vulgarmente vendida na Alemanha.

Lesões musculares e operações cirúrgicas

A bromelaína possui efeitos benéficos no tratamento da inflamação e das lesões ligeiras dos tecidos. Realizou-se um primeiro ensaio clínico envolvendo 74 pugilistas com equimoses no rosto e hematomas nas órbitas, lábios, orelhas, peito e braços. Foi-lhes dada bromelaína quatro vezes por dia durante quatro dias ou até ao desaparecimento das equimoses. Um grupo de controlo de 72 pugilistas tomou um placebo. Em 58 dos pugilistas que tomaram a bromelaína, todos os sinais de equimoses desapareceram completamente em quatro dias; os 16 restantes necessitaram de 8 a 10 dias para uma cura completa. No grupo de controlo, apenas 10 sujeitos se curaram em quatro dias; os restantes demoraram entre 7 a 14 dias a curar1.



Realizou-se um estudo em dupla ocultação e controlado por placebo envolvendo 160 mulheres submetidas a uma episiotomia (incisão ao nível da vulva) durante o parto. As participantes tomaram 40 mg de bromelaína quatro vezes ao dia durante três dias após o parto. A dor, o edema e a inflamação diminuíram de forma significativa a nível estatístico. 90% das mulheres que tomaram bromelaína evidenciaram uma resposta boa ou excelente, contra 44% no grupo de controlo por placebo2. Contudo, um outro estudo realizado em dupla ocultação envolvendo 158 mulheres igualmente submetidas a uma episiotomia não revelou qualquer efeito benéfico3.

Num ensaio em dupla ocultação, 95 pacientes tratados para uma catarata tomaram 40 mg de bromelaína ou um placebo (paralelamente ao seu tratamento) quatro vezes por dia durante dois dias antes de serem submetidos a cirurgia e depois durante cinco dias adicionais. No geral, observou-se uma inflamação menos pronunciada no grupo que tomou a bromelaína, comparativamente à observada no grupo de controlo por placebo.

Foram também observados efeitos benéficos em outros estudos realizados em dupla ocultação e controlados por placebo, em cirurgias dentárias, nasais ou aos pés. Contudo, um outro estudo envolvendo 154 indivíduos submetidos a uma cirurgia plástica facial não revelou qualquer efeito benéfico.

Diminui as dores articulares

Alguns ensaios clínicos indicam que a administração de bromelaína pode atenuar as dores articulares. Os investigadores atribuem geralmente este efeito à acção anti-inflamatória da bromelaína. Ela poderia talvez agir igualmente nos receptores fisiológicos da dor.
Num ensaio clínico envolvendo adultos com dor moderadamente aguda do joelho há três meses ou menos, a bromelaína evidenciou propriedades anti-inflamatórias e analgésicas, reduzindo os sintomas de osteoartrite e de poliartrite reumatóide. Num outro estudo, voluntários que sofriam de dor no joelho foram repartidos de forma aleatória em dois grupos que receberam, respectivamente, 200 mg ou 400 mg por dia de bromelaína. Nos dois grupos, o tratamento provocou uma diminuição significativa da dor, mais relevante no grupo que tomou a dose mais forte. Os pacientes indicaram também ter menor rigidez no joelho e uma melhoria do seu funcionamento físico. Os investigadores concluíram que “a bromelaína poderia melhorar eficazmente os sintomas físicos, bem como o bem-estar geral, de forma dependente da dose, nos adultos que sofrem de dores moderadas do joelho4”.

Propriedades anticoagulantes

A primeira prova concludente de que a bromelaína impedia a aglutinação das plaquetas foi reportada em 1972. A bromelaína foi administrada oralmente a 20 sujeitos voluntários com um passado de acidente vascular cerebral ou de crise cardíaca ou ainda com valores elevados de aglutinação das plaquetas. A bromelaína diminuiu a aglutinação das plaquetas em 17 sujeitos e, em 8 dos 9 sujeitos cujos valores da aglutinação das plaquetas eram elevados, normalizou-os5.

Uma acção na saúde cardiovascular

Observações clínicas mostraram que a toma diária de 400 a 1000 mg de bromelaína fazia diminuir o número de crises de angina de peito. Estas crises voltavam pouco tempo depois da interrupção do tratamento. Observou-se também que a toma de bromelaína associada a potássio e magnésio levava a uma diminuição do risco de enfarte.
Um estudo envolvendo 73 sujeitos com flebite aguda mostrou que um tratamento com bromelaína e analgésicos permitia reduzir todos os sintomas desta doença do sistema venoso.

Uma acção mucolítica

A bromelaína constitui uma ajuda para os pacientes que sofrem de constipações, de asma ou de produção excessiva de muco no sistema respiratório.
Os resultados de um ensaio clínico com 124 sujeitos hospitalizados devido a bronquite, pneumonia, bronco-pneumonia ou outros problemas pulmonares mostraram que a toma de bromelaína provocava uma redução da viscosidade do muco, propiciando assim a sua eliminação das vias respiratórias congestionadas.

Activa a resposta imunitária

Num estudo conduzido em Londres, médicos demonstraram que a bromelaína, uma mistura de proteases com cisteína, pode propiciar a resposta imunitária estimulando a produção de óxido nítrico e de TNF-alfa. Os investigadores concluíram que “a bromelaína pode desempenhar um papel na activação das respostas imunitárias em situações em que poderiam estar em falta, tal como pode acontecer nos indivíduos imunodeficientes”6.

Propicia a digestão

A bromelaína foi utilizada com êxito como enzima digestiva após uma pancreatectomia em casos de insuficiência pancreática exócrina e em outros problemas intestinais. Em virtude do seu amplo leque de pH, a bromelaína exerce a sua actividade tanto no estômago como no intestino delgado. O seu interesse foi igualmente demonstrado em casos de deficiências em pepsina ou em tripsina.
Experiências em modelos animais mostraram que a bromelaína cura as úlceras gástricas. Num vasto estudo sobre o seu efeito na mucosa gástrica, demonstrou-se que a bromelaína aumenta em 50% a assimilação de enxofre radioactivo e entre 30 a 90% a assimilação da glucosamina. Aumentar a assimilação destas substâncias poderia permitir, sob a acção da bromelaína, uma cura mais rápida da mucosa gástrica7.

Reforça a acção dos antibióticos

Em vários países, a bromelaína é antes de mais utilizada para reforçar a acção dos antibióticos. A bromelaína pode modificar a permeabilidade de determinados órgãos e tecidos a vários medicamentos. Prolonga o tempo de sono de ratinhos aos quais foi administrado pentobarbital8 e aumenta os níveis de penicilina e de gentamicina nos ratos.
No ser humano, demonstrou-se que aumenta os níveis dos antibióticos no sangue e na urina, tendo como resultado níveis mais elevados de tetraciclina e de amoxicilina no sangue e nos tecidos quando administradas em simultâneo com bromelaína9.
O tratamento de 18 mulheres com 80 mg de bromelaína associada a amoxicilina ou a tetraciclina teve como resultado um aumento dos níveis séricos e das concentrações destes dois antibióticos no útero e nos ovários, comparativamente aos sujeitos do grupo de controlo. Não se obteve este efeito com a indometacina, um medicamento anti-inflamatório que actua como inibidor da ciclo-oxigenase, o que indica que a bromelaína tem uma actividade não definida que estimula a absorção e a distribuição dos antibióticos nos tecidos10.
Num ensaio realizado em dupla ocultação, observou-se igualmente uma multiplicação por três dos níveis séricos de tetraciclina após a ingestão de 540 mg de bromelaína11.

Aplicou-se um tratamento combinando bromelaína e antibióticos a 53 pacientes hospitalizados por pneumonia, bronquite, infecção cutânea por estafilococo, tromboflebite, celulite, pielonefrite ou abcessos rectais ou perirectais. 33 de entre eles haviam seguido sem êxito uma antibioterapia. A bromelaína foi administrada quatro vezes por dia com antibióticos isolados ou combinados (penicilina, cloranfenicol, eritromicina ou novobiocina). Um grupo de controlo constituído por 56 pacientes foi tratado usando unicamente antibióticos. De entre os pacientes que foram tratados sem êxito por antibióticos, 22 reagiram ao tratamento combinado. Em todas as doenças estudadas, verificou-se uma redução significativa da morbilidade quando se utilizou a associação bromelaína-antibióticos, por oposição à antibioterapia isolada. Um outro grupo de 106 pacientes foi tratado apenas com bromelaína, tendo os resultados sido semelhantes ao obtidos com os antibióticos12.

Sinusites

Num ensaio realizado em dupla ocultação, 48 pacientes com sinusite moderada a grave tomaram bromelaína ou um placebo durante 6 dias13.
Todos os pacientes receberam um tratamento clássico incluindo anti-histamínicos, analgésicos e antibióticos. 23 de entre eles tomaram adicionalmente bromelaína quatro vezes por dia, tendo os restantes tomado um placebo. No final do estudo, verificou-se que a inflamação nasal foi reduzida em 83% nos sujeitos que tomaram a bromelaína e em 52% no grupo de controlo por placebo. As dificuldades respiratórias foram dissipadas em 78% dos pacientes que tomaram o suplemento e em 68% dos pacientes do grupo de controlo. No geral, observaram-se bons resultados em 87% dos pacientes tratados, por oposição a 68% no grupo de controlo. Verificaram-se igualmente efeitos benéficos em dois outros estudos que envolveram no total mais de 100 indivíduos com sinusite14.

A potenciação dos antibióticos e de outros medicamentos pela bromelaína poderá dever-se a uma estimulação da assimilação bem como a um aumento da permeabilidade dos tecidos doentes, que reforçaria o acesso dos antibióticos ao local da infecção. Pensa-se também que a utilização da bromelaína poderia criar um acesso semelhante a constituintes específicos e não específicos do sistema imunitário, estimulando assim a utilização pelo organismo dos seus próprios recursos de cura.



1- Bronstein J.L., Control off swelling in boxing injuries, Practitioner, 1960; 185: 78.
2- Zatuchi G.I. et al., Bromelains therapy for the prevention of episiotomy paine, Obstet Gynecol. 1967 ; 29: 275-278.
3- Howat R.C. et al., The effect of bromelain therapy on episiotomy wounds - a double-blind controlled clinical trial, J. Obstet. Gynaecol. Br. Commonw., 1972; 79: 951-953.
4- Walker A.F. et al., Bromelain reduces mild acute knee pain and improves well-being in a dose-dependant fashion in an open study of otherwise healthy adults, Phytomedicine, 2002 Dec; 9(8): 681-6. Tilwe G.H. et al., Efficacy and tolerability of oral enzyme therapy as compared to diclofenac in active osteoarthrosis of knee joint: an open randomized controlled clinical trial, J. Assoc. Physicians India, 2001 Jun; 49: 617-21.
5- Heinicke R.M. et al., Effect of bromelain on human platelet aggregation, Experientia, 1972; 28: 844-845.
6- Engwerda C.R. et al., Bromelain activates murine macrophages and natural killer cells in vitro, Cell. Immunol., 2001 May 25; 210(1): 5-10.
7- Felton G. et al., Does kinin release by pineapple stem bromelain stimulate production of prostaglandin E&-like compound, Haw. Med. J., 1976, 2: 39-47.
8- Moss J.N. et al., Bromelains, the pharmacology of th enzymes. Arch. Int. Pharmacodyn., 1963; 145: 168.
9- Tomozzi S. et al., Effect of bromelain on serum and tissue levels of amoxicillin, Drugs Expt. Clin. Res., 1978; 4: 39-44.
10- Luerti M. et al., Influence of bromelain on penetration of antibiotics in uterus, salpinx and ovary. Drugs Expert. Clin. Res., 1978: 4: 45-48.
11- Renzini G. et al., The absorption of tetracycline in combination with bromelain by oral application, Arzneim-Forsch., 1972; 22: 410-412.
12- A plant protease for potentiation of and possible replacement of antibiotics, Exp. Med. Surg., 161; 19: 143-160.
13- Ryan R.E., A double-blind clinical evaluation of bromelains in the treatment of acute sinusitis, Headache, 1967; 7: 13-17.
14- Raub S.J., The use of ananase in sinusitis: a study of 60 patients, Eye Ear Nose Throat. Mon., 1966; 45: 96-98. Seltzer A.P., Adjunctive use of bromelains in sinusitis: a controlled study, Eye Ear Nose Throat. Mon., 1967; 46: 1281-1288
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