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03-09-2018

11 segundos – é o tempo que o seu médico lhe dá para explicar o motivo da sua consulta

consultation

Então, o que o traz por cá?”, pergunta o médico. Este é o momento decisivo da consulta. O momento em que o paciente deve contar a sua história. Os seus sintomas, as suas inquietações, as suas dores, o que sente, as suas impressões, o impacto do que sente no seu dia-a-dia, no seu trabalho, nas suas relações familiares e sociais…

Infelizmente, este relato dura em média uns meros 11 segundos até o médico o interromper e retomar a consulta. Foi isto que constatou uma equipa de investigadores que analisou os primeiros minutos das consultas entre os pacientes e respetivos médicos. Em 54% dos casos, os médicos nem sequer dão ao paciente a oportunidade de se exprimir livremente, preferindo fazer perguntas mais ou menos fechadas (ou seja, para as quais as opções de respostas são limitadas, como: “Tem dores?” ou “Dorme bem?”).

Caminhamos para uma desumanização da medicina convencional?

Há 20 anos, vários estudos avançavam um outro número, também baixo mas mesmo assim sensivelmente mais elevado, de cerca de 21 segundos, sinal de que a medicina moderna prossegue a sua via de desumanização. Apesar de existirem exceções, como é evidente, a palavra do paciente parece ser cada vez menos valorizada. Contrariamente à prescrição de medicamentos e, sobretudo de exames complementares, que nunca atingiram níveis tão elevados como atualmente. Aliás, são estes exames que fazem um relato em vez dos pacientes. Mas é um relato que só se interessa pelas disfunções biológicas ou morfológicas objetivas, ou seja mensuráveis, e que não contempla os problemas mais subjetivos como o stress, as preocupações, as dores de barriga crónicas, os problemas de sono, os problemas de humor, os comportamentos compulsivos… Na verdade, tudo o que releva da “bobologia”, os sintomas menores que fazem “perder tempo” aos médicos e que são tão difíceis de descodificar. Razão pela qual um número crescente de entre eles passaria de boa vontade sem todos estes problemas menores que poderiam atingir sem problemas a manhã do dia seguinte, a semana seguinte ou até as calendas gregas. Estes médicos seguem o caminho errado; a saúde pessoal, as relações humanas e os fatores ambientais (alimentação, stress, aspirações pessoais...) são domínios continuamente interconectados.

Se uma pessoa está mais cansada do que o habitual, digamos, isso deve-se ao facto de ela estar doente, de ter um problema familiar ou de estar sobrecarregada com trabalho? Ou poderá dar-se o caso de serem as três coisas? Se uma pessoa tem dor de barriga, é porque está doente ou será a ansiedade que – ao baixar o limiar da dor – faz sobressair dores que o cérebro não perceciona habitualmente? Como é possível conseguir apreender estes problemas menores e propor pistas terapêuticas adaptadas não dando às pessoas mais do que 11 segundos para se exprimir? O papel do médico consiste geralmente em escutar o paciente, sem nunca julgar, em ouvi-lo esvaziar o saco, não para identificar o medicamento que poderia ser o mais pertinente, mas para ajudar o paciente a comunicar as coisas, a identificar o que poderia resultar de fenómenos fisiológicos normais ou patológicos, a propor medidas terapêuticas simples e acessíveis. Numa palavra, a pôr a sua experiência clínica bem como as suas competências médicas (e humanas!) ao serviço de queixas e relatos únicos.

Uma redistribuição da palavra nas medicinas complementares

A situação que conhecemos atualmente nos consultórios médicos e completamente diferente. As salas de espera a abarrotar e a rapidez com que as consultas são despachadas dão lugar a uma grande frustração. A frustração de não poder ter dito tudo, de não ser tido(a) em conta além da sua dimensão física, de não ser compreendido(a) e até de ser julgado(a), às vezes. “Quando disse ao cardiologista quais os tratamentos naturais que utilizava, começou a rir e a fazer troça de mim, fazendo-me sentir que sou ingénua em acreditar nesta forma de cuidar da minha saúde” revela Francisca, uma adepta da fitoterapia. No fundo, temos de desculpar os médicos; o sistema que os educou está gangrenado pela hiper prescrição de tratamentos medicamentosos em relação aos quais nos questionamos se não beneficiarão em primeiro lugar quem os prescreve e as empresas que os fabricam. É este sistema, ele próprio muito doente, que os empurra a trabalhar até 60 horas por semana sem lhes dar os meios para substituir o humano no centro das preocupações. O estado de coisas pode mesmo vir a agravar-se no futuro com a penúria de médicos que se anuncia e a vontade de vários sindicatos em todo o mundo de aumentar o preço da consulta em função do número de “problemas” do paciente.

Os indivíduos encontram resposta para esta necessidade de falar e de ser compreendidos em outros terapeutas, que sabem reconhecer o papel da alimentação, da gestão do stress e do estilo de vida na saúde mental e física das pessoas. Falamos dos psicólogos, dos acupunctores, dos nutricionistas, dos naturopatas, dos hipnoterapeutas e dos praticantes de medicinas denominadas “alternativas” e que – na grande maioria das vezes – são conhecidas há milhares de anos. A sua popularidade galopante e os índices de satisfação notáveis que suscitam não são um acaso; enquanto a medicina moderna parece ter esquecido até que ponto pode fazer bem falar e ser escutado, as medicinas tradicionais nunca perderam este aspeto de vista. E, às provas empíricas da sua eficácia, juntam-se progressivamente provas científicas…


O estudo principal do artigo

Naykky Singh Ospina, Kari A. Phillips, Rene Rodriguez-Gutierrez, Ana Castaneda-Guarderas, Michael R. Gionfriddo, Megan E. Branda, Victor M. Montori. Eliciting the Patient’s Agenda- Secondary Analysis of Recorded Clinical Encounters. Journal of General Internal Medicine, 2018; DOI: 10.1007/s11606-018-4540-5

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