Os legumes crucíferos – brócolos, couves, couves-flor – estão na origem de potentes fitonutrientes capazes de modificar o metabolismo dos estrogénios tanto no homem como na mulher e, desse modo, prevenir determinados cancros hormono-dependentes. O mais interessante de entre eles é o di-indolilmetano (DIM).
O interesse pelos fitonutrientes extraídos de legumes crucíferos remonta a vinte anos atrás, quando nos apercebemos que os brócolos, o DIM e o I3C (indol-3-carbinol) preveniam os três em modelos animais um cancro da mama induzido.
Melhorar o metabolismo dos estrogénios
Alguns miligramas de indol proveniente de legumes crucíferos podem regular a acção dos estrogénios e modificar o seu metabolismo. Aumentam a 2-dehidroxilação dos estrogénios, elevando assim os níveis de estrogénios não carcinogénicos como a 2-hidroxiestrona. A relação 2/16 dos metabolitos dos estrogénios é desta forma aumentada
1. Os estrogénios não carcinogénicos são potentes antioxidantes que têm o poder de eliminar as células danificadas ou cancerosas do organismo. Sem estes indols prolifera, pelo contrário, a produção de um grupo de metabolitos dos estrogénios indesejáveis, chamados “maus estrogénios”. Estes actuam de forma negativa, permitindo a oxidação e lesões do ADN e propiciam o aparecimento de cancros.
Um estudo
2 prospectivo envolvendo 5000 mulheres italianas demonstrou que esta relação 2/16 dos metabolitos dos estrogénios pode permitir prever um risco de cancro da mama. Neste estudo, o risco de desenvolver cancro da mama nos quatro anos seguintes em mulheres menopáusicas era mais fraco naquelas que tinham a relação 2/16 mais elevada. Num outro estudo, foi igualmente observada uma relação favorável 2/16 mais elevada em condições benignas, relativamente a casos de cancro da mama com relações mais baixas
3.
DIM e equilíbrio dos estrogénios
O DIM é a substância mais eficaz contida nos legumes crucíferos para propiciar um metabolismo benéfico dos estrogénios tanto no homem como na mulher. O DIM é formado a partir do seu precursor, o indol-3-carbinol (I3C). Foi utilizado pela primeira vez em 1987 em animais e demonstrou a sua isenção de toxicidade e a sua capacidade de prevenir um cancro da mama causado por carcinogénicos. O seu mecanismo de acção parecia implicar uma redução da actividade do sistema dos receptores de estrogénios, a promoção de um metabolismo benéfico dos estrogénios e uma apoptose selectiva ou “morte celular programada” que elimina as células danificadas
4.
O DIM actua para equilibrar a resposta natural aos estrogénios ajustando a actividade das enzimas metabólicas do citocromo e das moléculas especializadas dos receptores de estrogénio. Propicia igualmente a via de metabolização dos estrogénios nas células para privilegiar os metabolitos que previnem o cancro – o 2-hidroxi e 2-metoxi estradiol.
Estes metabolitos limitam depois o crescimento e a divisão celular, influenciando o ciclo celular que determina o crescimento e a replicação. O DIM apoia o mecanismo protector da apoptose, propiciando a eliminação benéfica das células danificadas.
Uma protecção contra o cancro da mama
A toma de um suplemento em DIM actua na via de metabolização dos estrogénios para propiciar a produção dos metabolitos 2-hidroxiestrona em detrimento da produção de 16-hidroxiestronas. Um aumento da proporção de metabolitos de 2-hidroxi está correlacionado com uma protecção contra o cancro da mama. Outros factores de risco do cancro, incluindo a obesidade, uma alimentação rica em gordura ou deficiente em ácidos gordos omega 3, estão igualmente correlacionados com uma fraca produção de 2-hidroxiestrona.
Um estudo piloto examinou os efeitos do DIM em metabolitos dos estrogénios de mulheres menopáusicas com um historial de primeiro estadio de cancro da mama. Após um mês a tomar o suplemento com DIM, as mulheres participantes no estudo evidenciaram um aumento significativo dos níveis de 2-hidroxiestrona e da relação 2-hidroxi-estrona sobre 16-alfa-hidroxiestrona. Estes resultados sugerem que o DIM poderia desempenhar um papel na prevenção do reaparecimento de um cancro, propiciando um metabolismo saudável dos estrogénios
5.
Por outro lado, um determinado número de estudos celulares e realizados em animais mostrou que o DIM inibia a proliferação de células humanas do cancro da mama.
Metabolismo dos estrogénios e saúde do homem
Investigações realizadas determinaram, no homem, uma correlação entre o envelhecimento, a acumulação de estrogénios e a presença de uma hipertrofia benigna da próstata. A acumulação de estrogénios nos tecidos é a característica própria da andropausa, por oposição à deficiência em estrogénios que caracteriza a menopausa.
A acumulação de estrogénios durante a andropausa é ampliada pela obesidade, dado que os tecidos gordos constituem o local onde se dá a conversão da testosterona e da DHEA em estrogénios. Em estudos de caso controlados, o aumento dos níveis de estrogénios prevê o grau de hipertrofia da próstata.
Outros trabalhos demonstraram que o estradiol – a forma activa dos estrogénios – provoca um aumento da produção do antigene específico da próstata (PSA) nos tecidos da próstata. O aumento da produção de PSA é inibido pelo 2-metoxi estradiol, o metabolito benéfico dos estrogénios cuja produção é propiciada pelo DIM. Estudos celulares mostram que este último reduz os níveis de PSA segregados e intracelulares provocados pela DHT (diidrotestosterona).
Para funcionar normalmente, a próstata precisa de testosterona. Mas crê-se também que a testosterona desempenha um papel nos primeiros estadios do cancro da próstata, por isso os médicos tratam geralmente os pacientes com cancro da próstata usando medicamentos anti-andrógenos. Em vários estudos os investigadores observaram que o DIM parava a proliferação de células cancerosas humanas da próstata androgeno-dependentes. Num dos dois estudos, o crescimento das células de cancro da próstata foi reduzido em 70% relativamente ao de células idênticas não tratadas. O DIM inibe também a estimulação da diidrotestosterona (DHT) na síntese do ADN nas células cancerosas andrógeno-dependentes. Estes efeitos não se verificam nas células cancerosas independentes dos andrógenes
6. O DIM parece por conseguinte ter fortes propriedades anti-proliferantes e anti-androgénicas nas células humanas de cancro da próstata. Estas propriedades foram igualmente observadas num modelo de cancro da próstata em ratinhos
7.
DIM e saúde cardiovascular Trabalhos de investigação suportam a conexão entre um metabolismo saudável dos estrogénios e a saúde do homem. Em estudos de culturas de células humanas endoteliais vasculares, mostrou-se que o 2-metoxi estradiol é o principal regulador do crescimento e da apoptose celular. Uma apoptose activa e regulada poderia contribuir para prevenir a formação da placa de aterosclerose. Ao nível da perda das lipoproteínas, os 2-hidroxi e 2-metoxi estrogénios são antioxidantes potentes. Em trabalhos de investigação, estes metabolitos cuja produção é estimulada pelo DIM previnem a oxidação das lipoproteínas, uma primeira fase da iniciação da aterosclerose.
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Références :
1. Michnovicz J.J. et al., Changes in levels of urinary estrogen metabolites after oral indole-3-carbinol treatment in human, J. NAT Cancr. Inst., 1997 May 21, 89(10): 718-23.
2. Muti P. et al., Metabolism and risk of breast cancer: a prospective analysis of 2:16 hydroxyestrone ratio in premenopausal and postmenopausal women, Cancer Epidemiology, 2000, 11: 635-640.
3. Dupont E. et al., The prognostic value of altered estrogen metabolism in breast cancer, Annals of surgical oncology, 2000, 7(1): supplement.
4. Chen N.T. et al., Aryl hydrocarbon receptor-mediated antioestrogenic and antitumorigenic activity of di-indolylmethane, Carcinogenesis, 1998, 19: 1631-1639.
5. Dalessandri K.M. et al., Pilot study: effect of 3,3'-di-indolylmethane supplements on urinary hormone metabolites in postmenopausal women with a history of early-stage breast cancer, Nut. Cancer, 2004, 50(2): 161-7.
6. Le H.T. et al., Plant derived 3,3'-di-indolylmethane is a strong androgen antagonist in human prostate cancer cells, J. Biol. Chem., 2003 Mar 27.
7. Nachshon-Kedmi M. et al., Therapeutic activity of 3'3-di-indolylmethane on prostate cancer in an in vivo model, Prostate, 2004 Oct 1, 61(2): 153-60.